Lúcia,
Pudesse ver os teus cílios de fome. Saudades da tua cara lavada, alva de lábios finos e sedentos de hibiscos. Adoro teus cabelos soltos nesse louro forçado, no embaraço em meus anéis de histórias e ventos.
Ah! Teu corpo pequeno e louco, precisamente branco no dialeto de nossos copos... (frase tão óbvia para quem deseja escrever um livro). Os loucos, Lúcia, comem a carne do verbo. São, apenas.
Comprei uma prosa de Hilda, Estar Sendo. Ter Sido. Sinto-me só, Lúcia, na catarse de um gozo nesses dedos de mentiras. Fodida, persigo a distância de um dia — de olhos que nunca mais verei como um sorriso falso de bijuteria. O brilho idiota de ser; a rosácea fingindo o dia colorido.
Hoje só tenho o sabor de procriar engodos nas coxas e escrever-te híbrida ao trago do vício.
Tantos pontos e vírgulas jamais me dirão... tu que bem me conheces guarda-me no teu silêncio irritante (sabe-me mais flores que as baladas da terra). Guarda-me memória no teu licor.
Peço-te, Lúcia. Deite-me inverno, não mo deixes esquecer o perfil perfeito, aquele dia liso. Não mo deixes esquecer o toque escorrido de um laço desfeito na nuca e o gemido dos incensos.
Não mo deixes esquecê-lo.
Porque a verdade, Lúcia, está sempre presente num gole de cinzas.
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Imagem: Avatar, Ana Magalhães, 2008
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